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Liçoes Sobre A Verdade: Fé

"Porque em verdade vos digo que qualquer que disser a este monte: Ergue-te e lança-te no mar; e não duvidar em seu coração, mas crer que se fará aquilo que diz, tudo o que disser lhe será feito". (Marcos 11:23).

A ciência em algum tempo foi a fé. — Lowell.

1. Fé é uma palavra à qual geralmente se atribuiu o significado de uma simples forma de crença baseada, principalmente, na ignorância e na superstição. Ë uma palavra que tem despertado algo de parecido com escárnio da parte da chamada "gente que pensa" — a espécie de gente que tem acreditado ser a conquista intelectual a mais elevada forma de conhecimento a ser atingida. A "fé cega", como a denominam desdenhosamente, é para padres, pastores, mulheres e crianças, mas não uma coisa prática na qual se possa estabelecer os negócios de todos os dias da vida.

2. Alguns se orgulham de terem superado as fraldas dessa fé cega e desarrazoada, tendo atingido um ponto em que, como eles dizem, têm fé apenas no que pode ser visto ou intelectualmente explicado.

3. O autor da Epístola aos Hebreus, evidentemente um intelectual marcante e doutor teólogo, antes de escrever demoradamente sobre a natureza da fé e dos maravilhosos resultados dela decorrentes, tentou resumir em algumas palavras uma definição da fé: 4. "A fé é o fundamento das coisas que se esperam, a prova das coisas que não se veem" (Hebreus. 11:1).

5. Em outras palavras, a fé apodera-se totalmente da substância das coisas desejadas e traz ao mundo da evidência as coisas que antes não eram vistas. Falando mais adiante da fé, escreve o mesmo autor: "As coisas visíveis não foram feitas das coisas aparentes" (Hebreus 11:3); isto é, as coisas que se veem não são feitas de coisas visíveis e sim das invisíveis. De certo modo, pois, entendemos que qualquer coisa que desejarmos está nessa substância invisível que nos rodeia e a fé é o poder capaz de trazê-la à realidade para nós.

6. Após haver mencionado inúmeros exemplos de feitos maravilhosos que ocorreram na vida de certos homens, não em consequência de seu trabalho ou de seus esforços, mas em virtude da fé, a Epístola diz:

7. E que mais direi? Pois faltar-me-á o tempo, se eu falar de Gideão, de Barac, de Sansão, de Jefté, de David, de Samuel e dos profetas: os quais, pela fé, venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram as promessas, fecharam as bocas dos leões, extinguiram a violência do fogo, escaparam do fio da espada, de fracos se tornaram fortes, mostraram-se poderosos na guerra, puseram em fuga os exércitos estrangeiros. Mulheres recobraram seus mortos pela ressurreição (Hebreus 11:32, 35).

8. Deseja você maior poder ou algo maior do que aquilo que acaba de ser mencionado — o poder de dominar reinos, fechar as bocas dos leões, apagar o fogo, por em fuga exércitos inteiros, trazer os mortos novamente à vida? Embora seus desejos possam ultrapassar a isso, você não deve desesperar nem hesitar em pedir que sejam satisfeitos, pois Alguém que é maior do que você, Alguém que sabia o que estava falando, disse: "Tudo é possível ao que crê" (Marcos 9:23).

9. Até muito recentemente, sempre que alguém falava da fé como a única força capaz de mover montanhas, caíamos numa espécie de desânimo sem esperança. Embora acreditássemos que Deus tem em Suas mãos todas as boas coisas, e está sempre disposto a deixar-Se persuadir a distribuí-las na medida da nossa fé, todavia, como poderíamos nós, mesmo que estendêssemos para a fé cada nervo do nosso ser, ter a certeza de que teríamos o bastante para agradar-Lhe? Pois não está dito: "Sem fé é impossível agradar-Lhe?" (Hebreus 11:6).

10. Desde o momento em que começamos a pedir, começamos a pôr em dúvida a nossa capacidade de alcançar o divino padrão de fé, do qual depende o nosso destino. Começamos, também, a pôr em dúvida que existia, além de tudo, tamanho poder na fé, capaz de convencer o Dispensador de "todo o dom excelente" a nos conceder algo que Ele nunca nos havia dado antes.

11. Considerando-se a fé sob essa luz, não é de admirar que muitas mentes lógicas a tenham considerado como uma espécie de fogo-fátuo, muito bom para mulheres e crianças nelas pendurarem suas esperanças, mas não algo do qual resultados definitivos poderiam ser obtidos em qualquer época — não algo sobre o qual pudesse descansar o mundo dos negócios.

12. Não há dúvida de que há uma fé cega (Alguém disse, com muita verdade, que a fé cega é melhor do que nenhuma fé, pois, se sustentada, tal fé terá aberto seus olhos depois de algum tempo). Mas há também uma fé de entendimento. A fé cega é uma confiança instintiva num poder superior ao nosso. A fé do entendimento se baseia num princípio imutável.

13. A fé não depende de fatos físicos, ou da evidência dos sentidos, pois nasce da intuição ou do Espírito de verdade, que vive sempre no íntimo de nosso ser. Sua ação é infinitamente superior às conclusões intelectuais; ela funda-se na Verdade.

14. A intuição é a extremidade aberta, no íntimo do próprio ser, do canal invisível que está sempre ligando o indivíduo a Deus. A fé é, por assim dizer, um raio de luz emanado do sol central — Deus — cuja extremidade chega ao seu ser e ao meu, através da porta aberta da intuição. Com nossa consciência percebemos o raio de luz e, apesar de intelectualmente não poder apreendê-lo ou explicar a sua razão ou o seu motivo, instintivamente sentimos que a outra extremidade do raio leva a tudo quanto existe de Deus (bem). Isto é fé "cega". Baseia-se ela na Verdade, mas uma Verdade da qual nem todos estão atualmente conscientes. Mesmo essa espécie de fé trará, se sustentada, resultados.

15. O que é uma fé do entendimento? Há coisas que Deus tão indissoluvelmente juntou que é impossível, mesmo para Ele, separá-las. Elas estão ligadas por leis fixas e imutáveis; se tivermos uma delas devemos ter a outra.

16. Isto está ilustrado pelas leis da geometria. Por exemplo, a soma dos ângulos internos de um triângulo é igual a dois ângulos retos. Pouco importa o tamanho ou a pequenez do triângulo, ou se ele for feito no cume de uma montanha ou a léguas, no fundo do mar, se nos for perguntado qual a soma de seus ângulos, poderemos, sem hesitação, responder, e ainda sem contar ou aferir o referido triângulo, que é justamente dois ângulos retos. Isto é absolutamente certo. É certo mesmo antes de o triângulo ser traçado mediante linhas visíveis; podemos sabe-lo antecipadamente, pois isso está baseado em leis imutáveis, na verdade ou realidade da coisa. Já era verdade mesmo antes que alguém o tivesse reconhecido, tal como ocorre hoje. O nosso conhecimento ou desconhecimento do fato não muda a verdade. Apenas na medida em que viermos a conhecê-lo como uma verdade eterna, poderemos dele tirar benefícios.

17. É também uma verdade simples que um mais um é igual a dois; é uma verdade eterna. Você não poderá juntar um e um sem que resultem dois. Você poderá acreditar ou não, mas isto não alterará a verdade. Mas, se você não puser um e mais um somado, você não produzirá dois, pois cada um é, eternamente, dependente do outro.

18. Os mundos ou reinos mental e espiritual são governados por leis tão reais e infalíveis quanto as leis que governam o mundo natural. Certas condições da mente estão tão relacionadas com certos resultados, que os dois são inseparáveis. Se tivermos um desses elementos, devemos ter o outro, tão certo quanto a noite segue o dia — não porque acreditamos no testemunho de alguma pessoa sábia, no sentido de que as coisas assim se passem, e nem mesmo porque a voz da intuição assim nos indica, mas porque tudo está baseado em leis que não podem falhar ou serem infringidas.

19. Quando sabemos algo dessas leis, podemos saber antecipada e positivamente quais os resultados que se seguirão a certos estados mentais.

20. Deus, a única causa criadora de todas as coisas, é Espírito, visível à consciência espiritual, como aprendemos. Deus é a soma total de todo o bem. Não há bem que você possa desejar em sua vida, em cujo centro não esteja Deus. Deus é a substância de todas as coisas — a coisa real dentro de todas as formas visíveis do bem.

21. Deus, a substância invisível, da qual todas as coisas visíveis são formadas, está à nossa volta, aguardando o momento para manifestar-se.

22. Essa substância, que nos rodeia por todos os lados, é ilimitada e é ela própria o suprimento de todo e qualquer pedido que possa ser feito; de toda e qualquer necessidade que exista no mundo visível ou natural.

23. Uma das verdades inequívocas do universo (por "uni-verso" quero dizer os mundos espiritual e natural combinados) é que já existe, disponível, grande abundância de suprimento, para qualquer necessidade humana. Em outras palavras, o suprimento de qualquer bem sempre aguarda o pedido. Outra verdade é que o pedido deve ser feito antes que o suprimento apareça para satisfazê-lo. Reconhecer essas duas declarações de Verdade e afirmá-las, constitui todo o segredo da fé do entendimento — fé baseada no princípio.

24. Confiramos isto com a definição de fé, dada antes nesta lição: "Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se veem (Hebreus 11:1). A fé se apodera da substância da coisa que se espera e traz à evidência ou visibilidade as coisas invisíveis.

25. O que geralmente chamam de promessas de Deus são certas verdades eternas e imutáveis, e que são verdadeiras quer sejam encontradas na Bíblia, quer no almanaque. São declarações invariáveis de verdade que não podem ser alteradas. Uma promessa, de acordo com os dicionários, é algo indicado antecipadamente para revelar que alguma coisa invisível está à mão. É uma declaração que confere à pessoa, à qual é feita, o direito de esperar e reclamar a execução do ato.

26. O Nazareno reconheceu a verdade imutável que, no invisível, o suprimento de todas as necessidades aguarda o pedido. Quando Ele disse "Pedi e recebereis" (João 16:24), estava simplesmente declarando uma verdade inalterável. Ele sabia que, no instante em que pedimos ou desejamos (pois o pedido é desejo expresso), tocamos numa mola secreta que põe em movimento, em nossa direção, o bem do qual carecemos. Ele sabia que não há necessidade de usarmos nem de adulação nem de súplicas; que o nosso pedido nada mais é do que nossa submissão a uma lei infalível que tem de ser cumprida; não há como escapar-lhe. Pedir e receber são os dois termos de um único ato. Existe entre eles uma relação muito estreita.

27. O pedir nasce do desejo de possuir algum bem. Que é desejo? O desejo, no coração, é sempre Deus batendo à porta da percepção íntima do indivíduo com Seu suprimento infinito — suprimento que será para sempre inútil se não houver pedido para ele. "Antes que clamem, eu responderei" (Isaías 65:24), Antes mesmo que você tenha consciência de alguma necessidade, de algum anelo por maior felicidade, por plenitude de alegria, o grande Coração que é, a um tempo, de Pai e de Mãe, já o tem desejado para você. É Ele, em você, desejando todas as coisas, e você sente e pensa que é você sozinho (separado d'Ele) quem deseja. Para Deus, o desejo de dar e o dar são uma única e mesma coisa. Escreveu alguém: "O desejo por alguma coisa é esta mesma coisa no princípio"; isto é, a coisa que você deseja ao só é para você mas também já partiu para você do coração de Deus; e é a sensação de aproximar-se dessa própria coisa que faz com que você a deseje ou, mesmo, se lembre dela.

28. O único meio de que Deus dispõe, para nos dar a conhecer o Seu suprimento infinito e o Seu desejo de torná-lo nosso, está em ativar, suavemente, a fagulha divina que arde no íntimo de cada um de nós. Ele quer que você seja forte, à altura de seus encargos, detentor de mais poder e mais domínio sobre tudo quanto se encontra diante de ti; assim, calma e silenciosamente, Ele faz com que penetre no íntimo de seu ser um pouco mais d'Ele mesmo e do desejo que Ele tem. Ele amplia, por assim dizer, o seu eu real e você logo se torna consciente de um novo desejo de ser maior, mais nobre e mais forte. Se Ele não tivesse, em primeiro lugar, introduzido um pouco de Si Mesmo em seu íntimo, você nunca teria experimentado novos desejos, mas ter-se-ia contentado com sua sorte.

29. Você pensa que deseja melhor saúde, mais amor, um lar mais prazenteiro e que lhe pertença inteiramente; em uma palavra, você quer menos mal (ou nenhum mal) e mais bem em sua vida. É apenas Deus batendo à porta interior de seu ser, como se estivesse dizendo: "Meu filho, deixe-Me entrar; quero dar-lhe todo o bem, a fim de que possa ter mais conforto e mais felicidade". "Eis que os meus servos comerão . . . eis que os meus servos beberão . . . eis que os meus servos se alegrarão. . . eis que os meus servos cantarão por ter o coração alegre. . . E edificarão casas e nelas habitarão" (Isaías 65:13, 14, 21).

30. Lembre-se disto: O desejo que se sente no coração, por qualquer coisa, é uma promessa segura de Deus, enviada de antemão, a fim de indicar que aquela coisa já é sua no reino ilimitado do suprimento, e tudo quanto lhe faltar, você poderá ter pela apropriação.

31. A apropriação daquilo de que se necessita nada mais é senão o reconhecimento da lei do suprimento e do pedido (ainda que não se possa ver sinal do suprimento, como ocorreu em Elias ao afirmar que viria chuva, embora por muito tempo não se pudesse ver uma nuvem sequer do tamanho da mão de um homem). Afirme sua posse sobre o bem que você deseja, tenha fé nela, porque você está agindo de acordo com a lei divina e, portanto, não pode ser mal sucedido; não se deixe abalar por ninguém, no tocante ao seu princípio básico; e mais fácil será caírem os céus do que você deixar de obter aquilo que deseja.

32. "Tudo o que pedirdes, orando, crede que o recebereis, o tê-lo-eis" (Marcos 11:24).

33. Conhecendo a lei do suprimento abundante e a verdade que o suprimento sempre precede o pedido, sendo o pedido apenas o apelo que torna manifesto o suprimento; sabendo que todo o desejo vindo do coração por qualquer bem é, na verdade, o desejo de Deus em nós e por nós, como poderemos obter a satisfação de todos os nossos desejos e obtê-la rapidamente?

34. "Deleita-te no Senhor e Ele te concederá o que deseja o teu coração" (Salmo 36:4). Apodere-se de Deus com fé inabalável. Comece e continue a rejubilar-se, e agradeça-Lhe por já ter (não porque terá) aquilo que deseja o seu coração, sem nunca perder de vista o fato de que o desejo é o próprio objeto desejado em princípio. Se esse bem já não fosse seu, no reino invisível do suprimento, você não o poderia sequer desejar.

35. Perguntará alguém: "Suponhamos que eu deseje a mulher do meu próximo, ou a sua propriedade; será este desejo nascido de Deus? E poderei eu vê-lo satisfeito com a afirmação de que é meu?"

36. Você não deseja, nem pode de modo algum desejar, aquilo que pertence a outrem. Você não deseja a mulher do seu próximo. O que você deseja é o amor que lhe parece ser representado pela mulher do seu próximo. Você deseja algo que sacie o seu coração sequioso de amor. Afirme que existe para você um suprimento legítimo e superabundante e reclame a sua manifestação. Ela certamente virá, e o seu pretenso desejo de possuir a mulher do próximo desaparecerá subitamente.

37. Assim sendo, você, na realidade, não deseja nada que pertence ao seu próximo. Você deseja o equivalente daquilo que as possessões dele representam. Você quer aquilo que é seu. Existe hoje, no invisível, um suprimento inesgotável de bens para todo o ser humano. Nenhum homem terá que receber menos a fim de que outro receba mais. O que é seu espera por você. Sua fé compreensiva, sua confiança, eis a força que o trará a você.

38. Disse Émerson que o homem que conhece a lei "está convicto de que o seu bem é caro ao coração do Ser . . . Ele acredita que não pode escapar a seu bem".

39. Graças ao nosso conhecimento da lei divina e por nossa obediência a ela, podemos nos livrar para sempre de toda a ansiedade, de todo o temor, pois "Abre a sua mão e satisfazes os desejos de todos os viventes" (Salmo 65:16).

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Copyright of Portuguese Translation © 2014 by TruthUnity.net under Creative Commons Attribution-NoDerivatives 4.0 International (CC BY-ND 4.0)

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