1. Não há nada que o coração humano tanto anseie e almeje como conhecer a Deus, "cujo conhecimento verdadeiro é vida eterna".
2. Com penosa inquietação de contemplar-se, as pessoas estão sempre mudando de uma coisa para outra, na constante esperança de encontrar descanso e satisfação antecipados em alguma realização ou posse. Os homens imaginam que desejam casas e terras, grandes conhecimentos ou poder. Perseguem essas coisas e conquistam-nas, para constatar que ainda continuam inquietos e insatisfeitos.
3. No grande coração da humanidade existe uma profunda e terrível nostalgia, que nunca foi e nunca poderá ser satisfeita a não ser com uma clara e viva consciência da presença interior de Deus, nosso Pai. Em todas as idades, homens e mulheres diligentes, que reconheceram essa fome interior como o brado do coração, por Deus, deixaram de perseguir coisas e procuraram, mediante a devoção e o serviço ao próximo, tomar consciência disso; mas poucos conseguiram chegar ao lugar prometido onde seu "gozo seja completo". (João 16:24). Outros têm acalentado esperanças e temido alternadamente; têm tentado, com o melhor conhecimento que possuem, diligenciar a sua "própria salvação" (Filipenses 2:12), sem terem aprendido que deve haver tanto um trabalho interno como externo. "Porque pela graça (ou dádiva graciosa) sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós (ou de nenhuma labuta humana), é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie". (Efésios 2:8, 9).
4. Para aquele que "habita no lugar secreto do Altíssimo" há uma prometida imunidade contra a "peste perniciosa" e do "laço do passarinheiro"; contra o "espanto noturno" e "a seta que voe de dia" (Salmo 91); e imunidade até contra o medo dessas coisas. Oh, o efeito terrivelmente paralisante do medo e do mal! Ele nos torna desamparados como crianças de Peito. Ele nos transforma em pigmeus, enquanto que deveríamos ser gigantes se estivéssemos livres dele. Está na raiz de todos os nossos fracassos, de quase todas as nossas doenças, pobreza e angústia. Mas temos a promessa de libertação, mesmo do temor e do mal, quando estivermos no "lugar secreto". "Não temerás o terror noturno" (Salmo 91:5), e assim por diante.
"Porque no dia da adversidade me esconderá no seu pavilhão:
"No oculto do seu tabernáculo me esconderá". (Salmo 27:5).
"Tu os esconderás, no secreto de tua presença, das intrigas dos homens:
Ocultá-los-ás em um pavilhão, da contenda das línguas". (Salmo 31:20).
5. O lugar secreto! Por que foi ele chamado lugar secreto? O que é? Onde o encontraremos? Como moraremos nele?
6. É um lugar secreto porque é um lugar de encontro entre o Cristo, que está no íntimo de seu ser, e o seu consciente — um lugar escondido onde nenhum estranho pode introduzir você ou ele mesmo penetrar. Devemos abandonar a ideia de que este lugar, no qual nos capacitamos de nossa divindade, nos possa ser dado por algum ser humano. Ninguém pode chegar a ele, vindo de fora. Centenas de pessoas zelosas andam esforçando-se, noite e dia, para obter esta revelação interior. Correm de mestre em mestre, fazendo muitas delas os mais desesperados esforços a fim de satisfazerem as obrigações financeiras, nas quais incorrem.
7. Você poderá estudar com professores e em livros escritos pela mão do homem, até o dia do Juízo Final; você poderá adquirir todo o conhecimento teológico acumulado através dos tempos; você poderá compreender, intelectualmente, todas as doutrinas da Verdade e ser capaz de proferir fórmulas de cura tão fluentemente quanto o escorrer do óleo; mas enquanto não houver uma revelação interior bem definida da realidade de um Cristo habitando em seu íntimo, através do qual e graças ao qual vem a vida, a saúde, a paz, o poder, todas as coisas — o Cristo que é todas as coisas — você não terá encontrado ainda "o segredo do Senhor" (Salmo 25:14).
8. A fim de adquirir este conhecimento — essa consciência de Deus em sua alma — muitos estão dispostos (e sensatamente, pois este é o maior de todos os conhecimentos) a gastar todas as suas posses. Até mesmo Paulo, após vinte e cinco anos de serviço e da prédica mais maravilhosa, disse: "E, na verdade, tenho também por perda todas as coisas, pela excelência do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor... e as considero como lixo, para que possa ganhar o Cristo (ou a consciência de Seu ser divino) (Filipenses 3:8).
9. Amado meu, aquilo que você deseja tão ardentemente nunca o poderá encontrar, se o procurar unicamente pelo caminho mental, assim como tampouco o encontrou até agora procurando-o, apenas, pelo caminho da emoção. A intuição e o intelecto foram feitos para caminhar juntos, a intuição sempre segurando as rédeas, a fim de guiar o intelecto. "Vinde, pois, e discutamos, diz o Senhor" (Isaías 1:18). Se você chegar até este ponto, em seu caminho, cultivando e ampliando apenas o lado mental da Verdade, como será provavelmente o caso, você precisa, para alcançar a plenitude de compreensão, deixar o lado mental, raciocinador, em descanso por um pouco de tempo. "Fazei-vos como meninos" (Mateus 18:3), e aprendendo a ficar calado, escute aquilo que o Pai lhe disser pela parte intuitiva de seu ser. A luz, pela qual almeja, virá do profundo silêncio e se tornará manifesta, no seu íntimo, se você se mantiver tranquilo e à espera dessa fonte.
10. E o conhecimento consciente de um Deus em nós, que tanto desejamos, é aquele sobre o qual Paulo escreveu aos Colossenses: "O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifestado. Cristo em vós, esperança de glória" (Colossenses 1:26, 27). "O lugar secreto do Altíssimo" (Salmo 91:1), onde cada um de nós poderá habitar e estar a salvo de todo o dano ou temor do mal, é o ponto da união mística entre o homem e o Espírito (ou Deus em nós), onde não mais acreditamos, mas sabemos que Deus em Cristo mora sempre no íntimo do nosso ser, como nossa perfeita saúde, libertação, prosperidade, poder, pronto a manifestar-Se a qualquer momento em que o reclamemos. Nós sabemos isto. Bem o sabemos. Sentimos a nossa unidade com o Pai e manifestamos essa unidade.
11. A posse do segredo de alguma coisa confere o poder sobre essa coisa. O conhecimento pessoal, consciente, da presença do Pai em nós é o segredo-chave de todo o poder. O que desejamos, é que nos seja revelado esse maravilhoso segredo". O que nos dará — quem poderá dar, senão Ele, o "Espírito de Verdade, que procede do Pai" (João 15:16)? É certo que ninguém mais o poderá fazer. Aquilo que Deus quer dizer a você e através de você é: um grande segredo, que nenhum homem na face da terra sabe, ou jamais saberá, exceto você segundo a maneira pela qual lhe for revelado pelo Espírito que está em você. O segredo que Ele me diz não é revelado a você nem o seu a mim; mas cada homem, depois de tudo dito e feito, deve ascender diretamente ao Pai através do Filho que está nele.
12. Não se proclamam segredos sobre os telhados; nem é possível passar-se de um para outro este segredo, o segredo dos segredos. Deus, o criador do nosso ser, deve Ele mesmo dizê-lo baixinho a todo homem que vive para a parte mais íntima de seu ser. "Ao que vencer (ou estiver conscientemente a caminho de vencer), darei eu a comer do maná escondido, e dar-lhe-ei uma pedra branca (ou uma mente limpa como uma tábua branca), e na pedra um novo nome escrito, o qual ninguém conhece senão aquele que o recebe" (Apocalipse 2:17). É tão secreto que nem sequer pode ser expresso em linguagem humana, ou repetido por lábios de homem.
13. O que você quer hoje, e o que eu quero, é que as palavras que aprendemos a proferir como Verdade se tornem vivas para nós. Queremos a revelação de Deus em nós como vida, a fim de que se torne saúde para a nossa consciência pessoal. Já não nos interessa mais que uma pessoa exterior nos diga estas palavras. Queremos urna revelação de Deus como amor em nós, a fim de que nosso ser inteiro sinta a plenitude e a exaltação do amor — um amor que não terá de ser adquirido ao preço de um esforço resoluto, por sabermos que é bom amar e mau não amar, mas um amor que manará com a espontaneidade e a plenitude das águas de um poço artesiano, porque está tão cheio, no fundo, que deve transbordar.
14. O que queremos hoje é a revelação à nossa consciência de Deus em nós, como força onipotente, para que possamos, com uma palavra — ou um olhar —, "fazer aquilo que me apraz, e ela (esta palavra) prosperará naquilo para que a envie" (Isaías 55:11). Queremos que o Pai seja manifestado em nós, a fim de que possamos conhecê-Lo pessoalmente. Queremos estar conscientes de que Deus está operando em nós "tanto o querer como o perfazer". (Fil. 2:13), a fim de que possamos "operar" a nossa "salvação" (Filipenses 2:12). Temos aprendido como fazer as obras avançadas, mas chegamos, agora, a um ponto em que precisamos aprender melhor como nos colocar numa tal atitude, que possamos, cada um de nós, estar conscientes do divino trabalho interior.
15. Maria falava com Jesus ressuscitado, julgando que fosse o hortelão, quando, repentinamente, ao pronunciar Ele o seu nome, brilhou em sua consciência um raio de pura intuição, e, em um instante, foi-lhe feita a revelação de Sua identidade.
16. De acordo com a mesma narração sagrada, Tomé Dídimo tinha acompanhado diariamente, durante três anos, o mais prodigioso Mestre em coisas espirituais que jamais havia vivido. Tinha observado a vida deste Mestre e participado de Sua presença física e mental. Tinha adquirido, exatamente o que até agora adquirimos, no que diz respeito ao preparo mental e ensino exterior. Mas eis que chegou um tempo em que houve nele uma revelação interna, que o fez exclamar: "Senhor meu, e Deus meu!" (João 20:28). O nome secreto, que ninguém podia saber por ele, foi-lhe dado naquele momento. Viera-lhe, num abrir e fechar de olhos, a manifestação, à sua consciência, do Pai nele como seu Senhor e seu Deus. Não mais apenas nosso Pai e nosso Senhor, que a todos pertence, mas meu Senhor e meu Deus — meu eu divino revelado pessoalmente a mim.
17. Não é por isto que andamos anelando?
18. Para cada homem chega um tempo em que ele não mais busca auxílios externos, em que ele sabe que a revelação íntima de "meti Senhor e meu Deus" à sua consciência lhe pode vir, somente, através daquele poder interior, que tem estado em sua alma desde sempre, esperando com infinito anseio e infinita paciência para revelar o Pai ao Filho.
19. Esta revelação nunca virá à consciência do homem por meio do intelecto, mas deve sempre chegar ao intelecto através da intuição, como uma manifestação do Espírito ao homem. "O homem natural não compreende (nem pode transmitir) as coisas do Espírito de Deus: porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente" (Coríntios I 2:14), e têm que ser comunicadas espiritualmente.
20. Em nosso zelo, temos recorrido a toda a fonte que nos estava ao alcance, a fim de obter a luz desejada. Por não termos sabido como apelar para o Espírito, que está em nós, com a intenção de conseguir a revelação desejada, temos corrido de um lado para outro. Que ninguém interprete mal o que eu disse a respeito de afastar-se dos mestres. Os mestres são bons e necessários, até certo ponto. "Como pois invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? e como ouvirão, se não há quem pregue?" (Romanos 10:14).
21. São bons os livros e as conferências, são bons os mestres, mas você tem de aprender por si mesmo que Cristo, o Filho de Deus, vive em você; que Ele, em seu íntimo, é sua luz, sua vida e tudo mais. Quando tiver, com o intelecto, apreendido isto, sem conservar uma sombra de dúvida, você deixará de procurar mestres que lhe possam trazer a compreensão espiritual. Que Cristo vive em você é o próprio Espírito que deve revelar-lhe. Os mestres falam da luz, mas a própria luz deve brilhar nas trevas antes que você possa vê-la.
22. Se o Mestre tivesse permanecido junto aos apóstolos, duvido que eles conseguissem ultrapassar a fase de procurar amparo em Suas palavras e caminhar nas pegadas de Sua personalidade.
23. Bem sabia Jesus que Seus métodos para a iluminação espiritual, que Ele seguira com Seus apóstolos de acordo com o Seu reconhecimento da Verdade, atuariam neles como um pensamento germinativo. Mas Ele sabia, também, que cada homem deve confiar em Deus por si mesmo para a iluminação interior, que é duradoura e real. Somente Deus pode revelar em voz baixa o segredo a cada um, separadamente.
24. A investidura do poder não lhes havia de vir pela palavra falada por outra personalidade, nem mesmo a de Jesus, apesar de Seu magno poder e discernimento espiritual. Devia chegar "lá do alto" (Isaías 32:15) a cada consciência individual. Era a "promessa do Pai que. . . de mim ouvistes" (Atos 1:4). Ele apenas lhes falara sobre tal assunto, mas não tinha poder para dar-lhe.
25. Assim, a cada um de nós, esta iluminação espiritual pela qual ansiamos, esta investidura de poder pela qual estaríamos dispostos a vender todos os nossos haveres, deve vir "lá do alto", isso é, deve chegar-nos à consciência vinda do Espírito, que está no íntimo do nosso ser. Este é o segredo que o Pai, com infinito desejo, procura revelar-nos individualmente. É por causa de o Pai, que está em nós, ter tamanho desejo de nos revelar o segredo, que desejamos a revelação. É esta a finalidade para a qual viemos ao mundo, a fim de que nos possamos elevar passo a passo, como o estamos fazendo, até o lugar onde poderemos suportar que o segredo de Sua mais íntima morada nos seja revelado.
21. Não fique perplexo diante de aparentes contradições nestas lições. Já disse anteriormente, que o excesso de introspecção não é bom. Repito-o; pois há aqueles que, em seu ansioso desejo de conhecerem a Deus, estão sempre buscando a luz para si, mas se descuidam de usar a que já possuem para ajudar a outrem.
22. Deve existir uma igualdade consciente entre o que se recebe do Pai e o que se distribui ao próximo; um equilíbrio perfeito entre a afluência de bens e as dádivas que são feitas, a fim de se manter perfeita harmonia. Cada um de nós deve aprender a contar, repetidamente, com Deus, para a sua renovação e, em seguida, dispor-se a dar a toda criatura aquilo que lhe foi dado, como o Espírito nos orienta a dar, seja em prédica ou ensino, ou vivendo silenciosamente a Verdade. Aquilo que nos traz plenitude irradiará de nós sem esforço, na situação de vida em que nos encontramos.
23. Em quase todos os ensinamentos da Verdade, segundo o lado puramente mental, tem-se dito muito sobre a maneira de efetuarmos a nossa salvação pelo cultivo de bons pensamentos, pelas negações e afirmações. Tudo isso é muito bom. Mas há outro lado que precisamos conhecer melhor. Devemos aprender como nos manter silenciosos e consentir que o Espírito, o EU SOU, opere em nós, a fim de que cada um de nós se torne, verdadeiramente, "uma nova criatura" (Gálatas 6:15), para que possamos ter a mente do Cristo, em todas as coisas.
24. Depois de haver aprendido a se abandonar ao Espírito infinito, fazendo isto diariamente por alguns períodos de tempo, você se sentirá surpreendido com a maravilhosa transformação que se operará em você sem nenhum esforço consciente seu.
25. Esse Espírito pesquisará, naquela parte de sua mente que jaz muito abaixo da consciência, e extirpará de sua natureza coisas de que você dificilmente suspeitará, simplesmente por terem elas estado latentes ali, esperando que algo revelasse a sua presença. Esse Espírito introduzirá em sua consciência luz, vida, amor e todo o bem, satisfazendo plenamente todas as suas necessidades, enquanto você nada mais faz do que tranquilamente esperar e receber. Falaremos em outra lição das medidas práticas para alcançar este resultado.
31. Paulo, que havia aprendido essa espécie de fé, essa maneira de permanecer tranquilo, deixando o EU SOU penetrar em sua mente consciente como a satisfação de todas as suas necessidades, não se sentia atemorizado ou envergonhado de dizer:
32. "Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome, para que, segundo as riquezas da Sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder, pelo Seu Espírito, no homem interior; para que Cristo habite pela fé nos vossos corações; a fim de, estando arraigados e fundada em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus" (Efésios 3:14, 19).
33. E prossegue atribuindo toda a glória "Aquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente, além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera" (Efésios 3:20).
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